Refletindo sobre 2018: entre a rigidez e a flexibilidade

Escrito por: Fernanda Marinho

2018 foi um ano estranho. Tanta coisa mudou na minha vida, e tantas vezes. Quando, em dezembro, estava começando a pensar em fazer uma retrospectiva, com uma rotina e planos estabelecidos para 2019, recebi uma nova proposta de trabalho e mudou tudo de novo.

Mas, mesmo antes disso, foi um ano de adaptações para mim. As circunstâncias mudando e eu me adaptando, tentando sempre ter em mente o que é essencial. Parece simples, mas não é. Criar uma rotina nova exige muita energia, e a tentação de seguir pelo caminho mais fácil ou de se deixar cair na bagunça é grande. Se apegar ao que fazia antes de tudo mudar, também, é um caminho tentador, e certo para dor de cabeça e fracasso.

Então grande parte das metas que eu tinha definido lá no início do ano deixaram de fazer sentido ao longo dele. Por um momento, até cogitei continuar me atendo a elas, mas isso ia mais me atrapalhar do que ajudar.

Disso tudo, veio um grande aprendizado: é preciso saber a hora de ser rígido e quando ser flexível. Saber quando a persistência passa ser teimosia.

É complicado porque não há uma resposta fácil. Ser flexível demais nos leva à desordem. Assim, dificilmente conquistamos algo e tendemos a ser levado cegamente pelas circunstâncias e pelas vontades dos outros. Por outro lado, ser rígido demais impede que a gente se adapte a situações novas ou mesmo que desfrute de oportunidades que não tinha percebido antes.

Refletindo sobre isso , lembrei de um post que tinha feito no blog antigo e fui lá recuperá-lo, com esperança de que ele me ajude, e compartilho aqui.

Musashi e os perigoso da rigidez

Estou lendo o clássico Musashi, do escritor Eiji Yoshikawa, baseado em um personagem real da história japonesa.

O livro conta a história das andanças do jovem Miyamoto Musashi pelo Japão em busca de aprimoramento no caminho da espada. Musashi é um esgrimista que busca se tornar o melhor samurai de todos. O interessante é que as principais lições que ele aprende não são de como lutar e ser um cara forte e implacável. Ele precisa aprender a controlar a própria força e seu comportamento.

Entre as várias passagens que eu achei interessante, tem uma em que o Musashi, que é um aprendiz guerreiro muito disciplinado e sério, conhece uma gueixa de nome Yoshinho, muito famosa pelas sua habilidades artísticas. Ela toca um instrumento chamado biwa com maestria. Para ensinar uma lição a Musashi, ela destrói o instrumento, mostra a ele a peça transversal de madeira que sustenta o instrumento e diz:

corda arrebentando


“Esta peça é o verdadeiro reforço que mantém o corpo, (…) suas entranhas, seu coração. No entanto, graça alguma haveria se esta fosse uma simples peça resistente e tesa. (…) O som verdadeiro da biwa surge, na verdade, de um pequeno detalhe nesta peça transversal: seus dois extremos estão aparados na medida certa, provocando uma ligeira folga na rigidez da peça. O ponto que eu, com toda a humildade, gostaria de vê-lo compreendendo é o seguinte: a atitude mental de todos nós, seres humanos, perante a vida não deveria ser semelhante à estrutura de uma biwa? (…)

E ao comparar essa imagem com o que percebi em sua pessoa esta tarde, senti o perigo a que está exposto, pois o senhor, Musashi-sama, é pura rigidez, nada existe em sua pessoa que represente a mínima folga. Se a uma biwa nessas condições encostássemos a palheta, o instrumento não produziria sons variados; e se mesmo assim insistíssemos em tocá-lo, suas cordas se partiriam e seu corpo se fenderia.”

(Yoshikawa, Eiji. Edição para o Kindle. Posição 15815)

Eu tento lembrar disso sempre que começo a me cobrar demais, a tentar seguir com rigidez o minimalismo ou qualquer outra crença e valor que eu tenho. A gente precisa de folgas, de um relaxamento, para mantermos nossa personalidade em tudo que ela tem de mais diverso, nossas experiências e aprendizados e até mesmo nossa saúde.

PS: Post originalmente publicado em 25 de julho de 2013, no endereço antigo.

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2 Comentários

  1. Leila disse:

    Feliz ano e bom aproveitamento das mudanças!!!! Amo os seus conteúdos. Obrigada

    1. Muuuuito obrigada, Leila! Feliz ano novo para você também 🙂

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