Os custos irrecuperáveis e as dificuldades de desapegar

Escrito por: Fernanda Marinho

Custos irrecuperáveis são aqueles recursos que gastamos e que não temos como ter de volta. São um conceito da economia, um viés geralmente presente naquelas situações em que investimos em algo e, mesmo que não esteja dando o retorno que queríamos, acabamos mantendo o investimento para evitar ter que reconhecer que foi um desperdício. Dá para ver que são grandes inimigos do desapego.

Sabe quando você compra um shampoo caro e, depois de usar, percebe que ele é horrível para o seu cabelo? Mas, como já gastou o dinheiro e não tem como devolver a compra, mantém e até usa o maldito só para “justificar” o custo? Pois é!

O apego à decisão tomada

Quantas vezes a gente mantém uma roupa, um sapato, um eletrônico, um cosmético ou um objeto qualquer não porque ele seja útil/confortável/eficiente/gostoso, mas porque pagamos muito por ele! É uma decisão totalmente irracional, já que o dinheiro gasto já era, não temos como recuperá-lo. Manter o objeto inútil e até usá-lo não vai mudar isso.

Isso vale também para custo de tempo, como aquele que dedicamos a um livro ou uma série, por exemplo. Sabe quando você começa a ler um livro, e está chato pra caramba, mas você já leu um tantão de páginas, e fica sem coragem de largar? É isso também. Como você já gastou o tempo de ler aquilo tudo, vai se sentir melhor gastando mais tempo para terminar, porque pelo menos você pode falar (nem que seja para si mesmo) que leu o livro.

Mas por que esse viés atrapalha?

O problema de tomar decisões com base em custos irrecuperáveis é que não vamos ter os melhores resultados práticos. Apenas um efeito psicológico. Você vai se sentir “menos burro” por ter feito aquele gasto porque pelo menos ele te trouxe algum benefício. Mas a enganação é que tendemos a exagerar ou até inventar tal benefício. Ter usado o sapato e ficado com o tornozelo em carne viva é mesmo um benefício? Gastar horas lendo um livro ruim que poderia ter gasto lendo um super legal é realmente um benefício? Ficar com aquela adega de vinho que gasta energia para caramba e ocupa espaço à toa é um benefício?

Para a economia, tomar decisões com base em custos irrecuperáveis não é recomendado. E acredito que para a nossa vida diária também não. A gente entulha mais e tem uma vida pior. Atrapalhamos nós mesmos nos sujeitando a situações longe de ideais só por uma teimosia mental.

Desde que conheci esse conceito, sempre me pergunto se não estou mantendo algum objeto, hábito ou até pensamento só porque já gastei tempo/dinheiro com ele. Tento sempre ficar mais atenta para (mais) essa pegadinha que a nossa mente nos prega.

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10 Comentários

  1. Leila disse:

    Fernada, amei a reflexão. Já mantive muitas coisas por motivos assim e esse ano comecei a rever tudo. Tem sido um aexperiência trabalhosa, mas muito enriquecedora em termos de consciência. Você já o livro “Goodbay, Things”? To lendo e AMANDO as reflexões. No google é fácil achar ele em pdf em inglês. Em português (o título continuou sendo “adeus, coisas”) só tem em Portugal msm. Quem me indicou foi a CrIstiane do perfil @meuminimo.

    Bjo

    1. Oi, Leila! Realmente dá trabalho. Hehe… E enriquece também. Não li esse livro não. Vou anotar aqui para procurar. Sigo a Cristiane também 🙂 Obrigadinha pelo comentário e pela recomendação da leitura! Beijo!

  2. Leila disse:

    Ok, uma cabeça explodiu agora. Meu mestrado foi bem isso. Eu precisava estudar, mas me faltava uma direção.. mas me consumiu tanto tempo, me fez eu questionar tanto minha capacitação para finalizá-lo, justamente pela incapacidade em desistir, deixar pra lá.

    E pra q?

    Beijos

    1. Pois é! Impressionante a força desse viés. Acaba sendo uma prisão em que a gente mesmo se coloca para se sentir melhor, mesmo quando os resultados não valem a pena. Complicado, não é? Beijo!

  3. MJC disse:

    Já tive essas experiências com livros ruins. As vezes ainda termino na esperança de melhorar, mas quando não resta nem essa esperança mais, já jogo ele pro lado.

    No meu ritmo de leitura, não lerei mais 500 livros. Não dá pra desperdiçar mais o tempo com livro ruim…

    1. Exatamente! Eu já tomei essa decisão lá atrás quando fiquei um mês tentando ler um livro ruim, mas não lia mais do que duas páginas por vez (afinal, o livro era chato). E assim deixava de estar lendo várias páginas por vez de livros bons. E tem tantos por aí, não é?

  4. Sergio Marcos Oliveira disse:

    Putz… Custos irrecuperáveis ? Não tinha ouvido falar nada a respeito disso, mas o conceito é tão real – e tão prejudicial !!!- que agradeço a dica para reflexão e (re) tomada de atitudes. Valeu mesmo.
    Mas, apenas para acrescentar, essa reflexão passa necessariamente por nosso Orgulho ferido e pela nossa dificuldade em admitir que erramos. “Errei, sim.. e daí ?” Somente quem se assume vulnerável e falho pode ser livre e leve.
    Vamos trocar o peso da insistência tola por uma leveza de se admitir humano (e, portanto, falho, fraco e vulnerável) ?
    Eu troco! Um abraço e obrigado de novo, Fernanda.

    1. Também fiquei surpresa quando conheci o conceito de custos irrecuperáveis e muita coisa passou a fazer sentido. E tem razão. Tem muito a ver com orgulho e dificuldade de admitir os erros mesmo. E, como você disse, se não assumimos, não somos livre e leves, e também não aprendemos e nos tornamos pessoas melhores. Então também troco! Obrigada você! Abraço 🙂

  5. Aline Aleixo disse:

    Nossa Fernanda, perfeito!!! Eu tinha ficado meses sem ler seu blog, agora estou maratonando as publicações aqui, mas essa bateu forte! Tenho estudado muito sobre organização pq quero trabalhar como personal organizer e achei que seu texto contribui demais. É um fundamento a ser compartilhado com futuros clientes. Super obrigada! Fico feliz que você continue com o blog nesses tempos de informação mastigada e tem alimentado ele com a mesma qualidade de sempre. Bjo

    1. Ei, Aline! Bem-vinda de volta! Que bom que pude ajudar! Continuo com o blog sim. Tenho tido mais dificuldade para postar com frequência, justamente para tentar sair do óbvio e do que já escrevi antes. Depois de anos escrevendo sobre o mesmo tema, vai ficando mais difícil. Mas continuo 🙂 Obrigada pelo carinho e pelo comentário! Beijo

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